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Executivo: Uma caminhada solitária

Era uma vez um menino que queria ser um profissional de êxito, pois tinha como modelo o pai, os jornais, revistas, ou porque passou muita dificuldade, queria mudar o destino de sua história. Então… se esforçou para entrar na universidade, fazer uma língua, e ainda quando estava em formação, teve o primeiro estágio em uma empresa.

Percebeu que tinha perspectivas de crescimento, pois na organização havia possibilidades de ser efetivado, caso seu desempenho fosse além das expectativas. Ufa! Conseguiu, foi efetivado, agora subiu um degrau, pois em seu planejamento de carreira (ferramenta indicada na Universidade), esta era uma etapa a ser vencida. Ao longo de sua vida profissional foi evoluindo e, é claro, tiveram muitos percalços que gostaria de não ter vivenciado. Outras situações engraçadas, inusitadas, perfis diferentes desfilaram ao longo desta passarela, que se chama vida. Alguns destes personagens ficaram marcados, por terem contribuído com a construção deste executivo sendo-lhe um espelho, e outros somente passaram.

Veio a formação da família, os filhos e, agora, tinha que dividir seu tempo entre o trabalho, a especialização e a vida pessoal. Sabemos como isto é difícil! Geralmente, alguém tem que ser sacrificado e, nesta situação, por mais que seja difícil, a família acaba sendo a escolhida, pois, afinal de contas, o sacrifício é para dar o melhor para os filhos e para a esposa. Cresce a busca por uma casa melhor, educação para os “pimpolhos” e sem dúvida, com tudo isto, vem a necessidade de ter um melhor carro, frequentar melhores restaurantes, clubes e roupas de grife. Os anseios crescem, as viagens aumentam, reuniões intermináveis, que muitas vezes se arrastam sem ter atingido o alvo.

Percebe-se que muitos comportamentos que eram exigidos pela empresa através da missão, visão e valores – como trabalho em equipe, solidariedade, empatia, liderança construtivista, dentre outros – se perderam. Nesta caminhada, chegou ao topo, no entanto, o sentimento tende à completa solidão, pois algumas decisões dependem única e exclusivamente dele. Algumas informações que possui não pode compartilhar, pois seu par é um competidor agressivo, a espreita de um deslize e, caso compartilhe com este, tende a parecer “fraco”, podendo vir o pensamento de vulnerabilidade. As tomadas de decisão muitas vezes não são bem interpretadas ou entendidas. A busca por resultado pode apresentar certa miopia, não analisando de forma sistêmica, deixando inclusive de envolver áreas e pessoas importantes, o que pode comprometer o engajamento de todos. Isto me lembra de uma ocasião em que um CEO, em seu pronunciamento aos colaboradores, disse: ”As minhas portas estão abertas a todos, apesar de fazer dois anos que não vou à fábrica”. Isto me remete a pensar num distanciamento de atitude, apesar de, em seu discurso, buscar aproximação.

Em minhas andanças, tenho me deparado com diversos perfis de profissionais e percebo que muitos Executivos detêm apenas parte das informações por terem liderados que trazem situações de acordo com sua percepção (que nem sempre é a real), prejudicando em ações mais assertivas. Isto poderia ser minimizado, caso tivesse uma prática informal de conversar com alguns colaboradores de frente, ou passar no ambiente de trabalho para conhecer melhor a realidade destas pessoas. A somatória de diversas experiências fazem com que as ações sejam vistas de diversos ângulos e, portanto, em grande parte, este fardo que é acertar, pode ser compartilhado.

Como não poderia evitar, o stress vem, o controle das emoções é mais exigido, a pressão por resultados, a família cobra mais sua presença, a administração do tempo é precária, se vê em um emaranhado de situações que não sabe como solucionar… Parece estar em um “beco sem saída”!

Esta estória se faz presente na vida de milhares de profissionais que, inclusive, entram em depressão, apresentam síndrome do pânico, tornam-se emocionalmente abalados ou que, simplesmente, querem fazer um “pit stop” para ajustar a sua vida profissional e pessoal. Percebem que os filhos cresceram e que não viram cair o primeiro dente, deixaram de participar da alfabetização, de acompanhar as amizades, perderam alguns aniversários. O seu “eu interior” pede que se volte para as coisas mais simples e mais preciosas que a vida lhe ofereceu. Neste hall, encontram-se as amizades que construiu e a relevância que a saúde tem.

Como organizar toda esta situação? Profissionais hoje no mercado são preparados, para auxiliar na priorização de acordo com o significado que cada área da vida tem para este executivo, resgatando os diversos papéis, não só de profissional, mas de pai, amigo, filho, marido e principalmente de sua essência, o seu EU. Inclusive, dão suporte em situações pontuais e analisam contextos voltados ao negócio. Muitas vezes, são necessários poucos encontros, mas que desmistificam o imbróglio, dando mais confiança na solução de um problema ou em decisões mais complexas.

Muitas escolhas e mudanças nos causam muita angustia e passam por processos que, inclusive, convergem para sentimentos de perda. No entanto, quando substituímos velhos hábitos e que vemos ao redor resultados positivos, vivenciamos uma sensação prazerosa. Em algumas situações, temos que dizer não, ser mais assertivos, desagradar, ferir alguns egos. Entretanto, ao longo do trabalho, percebe-se que há muitos ganhos para todos, inclusive para o protagonista desta estória.

 

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